Entenda como a longa disputa entre Inglaterra e França moldou a política, a cultura e as fronteiras da Europa moderna.
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi um dos conflitos mais significativos da Idade Média, envolvendo os reinos da Inglaterra e França. Com duração de mais de um século, esse conflito teve múltiplas fases, cada uma com eventos e consequências que moldaram a geopolítica europeia.
Causas e Início da Guerra
As raízes da Guerra dos Cem Anos remontam a questões dinásticas, territoriais e econômicas. A morte de Carlos IV da França em 1328, sem herdeiros diretos, desencadeou uma disputa pelo trono francês. Eduardo III da Inglaterra, neto de Filipe IV da França, reivindicou o trono, mas a nobreza francesa escolheu Filipe VI, da Casa de Valois. Além disso, a disputa pelo controle de territórios como a Aquitânia e a Flandres exacerbou as tensões, levando ao início das hostilidades.
As Fases da Guerra
A Guerra dos Cem Anos pode ser dividida em várias fases, cada uma marcada por diferentes dinâmicas de poder:
Primeira Fase (1337-1360): Conhecida como a fase Edwardiana, foi marcada por vitórias inglesas significativas, como a Batalha de Crécy em 1346 e a captura de Calais em 1347.
Segunda Fase (1369-1389): A fase carolina viu uma recuperação francesa sob a liderança de Carlos V, que conseguiu recapturar grande parte dos territórios perdidos.
Terceira Fase (1415-1429): A fase lancastriana, marcada pela vitória inglesa na Batalha de Agincourt em 1415, deu início a um período de domínio inglês sobre o norte da França.
Quarta Fase (1429-1453): Esta fase foi caracterizada pelo ressurgimento francês sob a liderança de Joana d'Arc, que inspirou o exército francês a reverter o curso da guerra, culminando na expulsão dos ingleses do território francês.
Primeira Fase: A Guerra Edwardiana (1337-1360)
A fase Edwardiana foi marcada por uma série de vitórias inglesas. A Batalha de Crécy, em 1346, foi um dos primeiros grandes confrontos, onde a superioridade tática dos arqueiros ingleses garantiu uma vitória decisiva sobre os franceses. Em 1347, os ingleses capturaram Calais, consolidando seu controle sobre um ponto estratégico. Essa fase culminou no Tratado de Brétigny (1360), que confirmou o controle inglês sobre vastas áreas da França em troca da renúncia de Eduardo III à coroa francesa.
Segunda Fase: A Guerra Carolína (1369-1389)
A fase carolina viu um renascimento do poder francês sob a liderança de Carlos V. Aproveitando-se da instabilidade interna na Inglaterra, Carlos V retomou grande parte dos territórios perdidos. A estratégia francesa se concentrou em evitar grandes batalhas e desgastar os ingleses através de táticas de guerrilha e cerco. Em 1389, um tratado de paz provisório foi assinado, encerrando temporariamente as hostilidades.
Terceira Fase: A Guerra Lancastriana (1415-1429)
A fase lancastriana começou com a renovação das hostilidades sob Henrique V da Inglaterra. A Batalha de Agincourt, em 1415, foi um dos momentos mais icônicos da guerra, onde os ingleses, em menor número, derrotaram decisivamente as forças francesas. Essa vitória levou à assinatura do Tratado de Troyes (1420), que deserdou o Delfim francês e reconheceu Henrique V e seus descendentes como herdeiros do trono francês.
Quarta Fase: O Renascimento Francês e o Fim da Guerra (1429-1453)
A última fase da guerra foi marcada pelo ressurgimento francês, impulsionado pela liderança de Joana d'Arc. Em 1429, Joana liderou a vitória na Batalha de Orléans, que foi um ponto de virada para os franceses. Sua captura e execução em 1431 não impediram que os franceses continuassem a avançar, recuperando gradualmente o território perdido. Em 1453, a vitória francesa na Batalha de Castillon marcou o fim da guerra, com a expulsão dos ingleses de quase todo o território francês, exceto Calais.
Consequências da Guerra
O fim da Guerra dos Cem Anos teve profundas repercussões. Na França, a vitória consolidou a monarquia e ajudou a unificar o país sob uma identidade nacional. Na Inglaterra, a derrota levou a uma crise interna que culminou na Guerra das Rosas, uma série de conflitos dinásticos que moldariam o futuro da monarquia inglesa.
Além disso, a guerra marcou uma transição nas táticas e tecnologia militar, com o declínio da cavalaria pesada e o aumento do uso de armas de fogo. Também é vista como um catalisador para o fim do feudalismo, acelerando a centralização do poder nas mãos dos monarcas.
A Guerra dos Cem Anos não foi apenas um conflito entre duas nações, mas um evento que redefiniu as fronteiras e a política da Europa. Seu legado perdura até hoje, influenciando a história, a cultura e as relações internacionais. Entender esse conflito é fundamental para compreender as complexas dinâmicas que moldaram o continente europeu e que continuam a impactar o mundo moderno.
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